Estudo aponta soluções para reduzir impactos ambientais da pecuária
A convivência pacífica entre a atividade econômica rentável e a conservação dos recursos naturais é perfeitamente viável, afirma o extensionista Ênio Resende de Souza, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais. Ele realizou um estudo em que mostra algumas alternativas para manter a boa rentabilidade das áreas de pastagem, sem causar desgaste do solo, e até contribuindo para a recuperação de áreas degradadas por uso incorreto.
E o que não falta é área a ser recomposta. Segundo Ênio, estima-se que na região do Cerrado, no Brasil Central, onde se inclui o Estado de Minas Gerais, cerca de 80% dos 45 a 50 milhões de hectares da área de pastagem apresentam algum nível de degradação. "As pastagens têm sido consideradas a base da alimentação dos bovinos. A partir da década de 70, as chamadas "pastagens plantadas" tiveram um crescimento surpreendente. Todavia, sem a devida recuperação e uso de boas práticas de manejo dessas pastagens, ficaram evidentes o seu estado de degradação e sua baixa capacidade de suporte, associados a processos erosivos, com reflexos negativos na quantidade e qualidade da água das bacias e microbacias hidrográficas", explica Ênio.
A proposta para manejo integrado sustentável das atividades pecuárias tem os seguintes princípios: a utilização do solo, de acordo com a sua capacidade de uso e suporte; a proteção e ou recuperação das áreas de preservação permanente e de reserva legal; o aumento da cobertura vegetal do solo; o controle do escoamento superficial e dos processos erosivos; a recuperação de áreas degradadas; o controle dos focos de poluição (orgânica e inorgânica); o tratamento e a destinação final adequada de resíduos e efluentes; a readequação ambiental de estradas e acessos rurais; o uso de sistemas de produção em consonância com as condições edafoclimáticas e as leis e normas ambientais.
"A pecuária, por meio do manejo adequado e da recuperação das pastagens e de outras medidas ambientais integradas, constitui uma das atividades econômicas que permitem, concretamente, a almejada compatibilização de interesses puramente econômicos com aqueles de natureza ambiental", afirma o engenheiro agrônomo, coordenador técnico estadual da Emater-MG.
Segundo Ênio Resende de Souza, esses processos são interativos, porque o controle de um deles pode se refletir nos demais. "Os reflexos das medidas de manejo integrado das bacias hidrográficas vão além das áreas rurais, refletindo em garantia de abastecimento de água, tanto em qualidade quanto em quantidade, para as populações urbanas, processamentos industriais e vida útil de reservatórios para geração de energia e lazer. Assim, o espaço rural assume relevância, não somente na produção de alimentos, fibras e produtos energéticos, mas também como "produtor" de água em qualidade e quantidade satisfatória para a utilização múltipla por outros segmentos da sociedade", ressalta o especialista.
A pecuária é uma atividade que, dependendo da forma de manejo, pode afetar negativamente o solo e causar ou agravar problemas como escoamento superficial de água e erosão, o que prejudica também a quantidade e a qualidade da água dos mananciais. Como exemplos de impactos negativos, estão o pisoteio excessivo do rebanho, provocado por excesso de animais em determinada área, que pode provocar a compactação do solo, responsável pelo escoamento superficial da água de chuva. Assim, o solo fica mais exposto aos fatores climáticos e mais susceptível aos processos erosivos.
"O escoamento superficial ou enxurrada constitui perda irreversível das águas, durante a estação chuvosa, pelas bacias hidrográficas, além de causar erosão, inundações e transporte de poluentes e contaminantes para as águas superficiais, como rios e lagos", esclarece Ênio.
Outra prática inadequada, acrescenta, é atear fogo às pastagens, visando a limpeza do terreno e a rebrota das plantas forrageiras, especialmente nas pastagens nativas. Além disso, lembra o extensionista da Emater-MG, a pecuária é fonte de grande quantidade de resíduos orgânicos, entre os quais os dejetos de animais. "Na forma de resíduos sólidos e efluentes, os dejetos assumem, no quesito impacto ambiental, uma alta significância, quando não recebem o devido tratamento e destinação final, principalmente no caso da suinocultura", afirma Ênio.
Eficácia comprovada
Uma unidade demonstrativa de integração entre lavoura e pecuária com plantio direto (ILPD) no município de Teixeiras, na Zona da Mata mineira, comprovou a eficácia da tecnologia, que resultou na recuperação da pastagem degradada de uma área de cinco hectares do sítio Cachoeira. No local foi feito o plantio consorciado de milho e capim braquiária, informa o extensionista da Emater–MG local, Vicente de Paula da Silva, responsável pela implantação da unidade.
De acordo com o engenheiro agrônomo, a adoção do cultivo consorciado de milho e braquiária consumiu R$ 1.250,00 por hectare, valor recuperado já na primeira safra, em maio de 2007. "A integração lavoura-pecuária com plantio direto é uma alternativa viável para recuperar as pastagens degradadas da região, que é muito montanhosa, sujeita à erosão", afirma Vicente de Paula. Ele já havia participado de outra experiência no município, na Fazenda Barrinha. Lá, a unidade foi tão bem-sucedida que virou modelo, sendo muito visitada por agricultores de outras regiões. O trabalho na região foi desenvolvido em parceria entre a Emater–MG e a Universidade Federal de Viçosa (UFV), com apoio da Embrapa e da Associação de Plantio Direto no Cerrado (APDC).
A técnica integração lavoura-pecuária visa incentivar sistemas de produção que integrem agricultura e pecuária realizadas em rotação, consorciação ou sucessão sobre uma mesma área, aumentando a produção e tornando-a mais sustentável, ambiental e economicamente. Seu grande mérito é aumentar a produtividade para a agricultura e pecuária, ao mesmo tempo em que ajuda a recuperação de áreas degradadas, respeitando o meio ambiente.
Como funciona
O milho é plantado na mesma área que o capim braquiária. Na época do plantio de milho (outubro e novembro), a semente de braquiária é misturada ao adubo e jogada nas linhas e entrelinhas do milho. A colheita do milho ocorre em fevereiro e março e o cereal poderá ser usado para alimentar o rebanho no período da seca.
Na época de plantar a outra safra de milho, deve ser aplicado herbicida na braquiária para provocar uma paralisação temporária de seu crescimento. Isso impede que a forrageira concorra por nutrientes e água com o milho durante o período crítico de germinação do grão, nos primeiros 50 dias. Quando a braquiária voltar a crescer, o milho já estará bem desenvolvido. Assim, além de aproveitar a mesma área para duas atividades, o produtor ainda melhora a qualidade do solo, com a diversificação de uso. Isto porque a monocultura, ao explorar sempre os mesmos nutrientes, reduz, ao longo do tempo, a fertilidade do solo, que fica mais sujeito à erosão.
Assessoria de Comunicação da Emater-MG
Jornalistas: Miriam Fernandes e Terezinha Leite
(31) 3349-8241 / 3349-8096
Publicado em: 28/12/2007
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